domingo, 31 de maio de 2020

Namorados

Não vou só.

Vou com os caminhos

e pelos caminhos e de
mãos dadas.

Ora,
a mão direita
na esquerda.

Ora,
a esquerda
na direita.

Lado a lado.

Será ou uma mão
ou outra
na outra que
se é tocada.

E neste
gesto tão meigo,
tão simples
de mãos dadas.

Há de haver ternura
na simples doçura
de mãos enlaçadas.

Inaudita beleza

Se pudesse pintar-te!

Não posso,
pois tu te apresentas
mudando.

Se me fosse possível,
congelaria tua aparição.

Não sobraria riqueza em meus traços,
porque o antes é o instante mesmo da
tua revelação.

E da tua beleza me careceria
uma vaga lembrança da modificação
do que fosses tu um dia..

E do meu olhar a nitidez que se limita
a única coisa que não muda:
a luz exclusiva tua.

sexta-feira, 29 de maio de 2020

Memória de olvido


Tão pálido rosto,
tão exangüe,
morto.

E cedo só será um nome
que o tempo apagará
no tempo mesmo de
cada vida apagada.

Mas ainda assim
beijo a tua face fria.

Que vil beijo!

Porque vejo
só o que existe.

É um simples gesto
do resto que me restou.

quinta-feira, 28 de maio de 2020

Instante


Da transparência das horas
que vão se despedindo.

Da purificação e do esquecimento.

Das duas realidades
que não se antepõem.

Do sol que vai nascendo
sobre a viva flôr branca
dos lírios.

E do instante,
um sempre aparente
instante, primeiro e único
instante do suave perfume
da flôr branca dos lírios.

quarta-feira, 27 de maio de 2020

Espanto


O sol se põe nas
tampas dos morros
vastos e vazios.

Põe-se em um último
raio de luz amarelado.

E uma voz silenciosa
em sua quietude
misteriosa,

Manifesta-se:

Espanta-te
alma que
filosofa e vê?

Espantado,
sentindo,
consentindo
como que sente
e consente,

A noite mergulha em
um sono profundo.