sábado, 18 de julho de 2020

O que não muda

Possuindo em meio à pressa
intensidade e brilho,

Mas seguindo nos labirintos
dos mistérios dos tempos
seculares,

Sente que toda pressa
já não mais existe,
pois o que Permanece,

Encoraja.

quinta-feira, 16 de julho de 2020

Logos heraclítico


"Um homem dura enquanto outros passam,
e passa enquanto outros duram." Eric Voegelin


Ao Caipira

Tenho conhecido algumas coisas:
o ranger do bambu-gigante
e o som de suas folhas,
o peso do metal na palma de minha mão,
a aurora,
o pôr-do-sol,
a noite que envolve,
o luar,
a morte,
a vida.

Tudo isso tenho conhecido.

Conheci a esperança,
e o sono até.
Mas nesse seguir inexorável
conheci também:
o temor,
e a vigília.

A minha estupidez,
conheci.

E entre um conhecer e outro, a pergunta que sempre me faço:
Que rio é esse que flui
entre o que sou e o que fui?





sábado, 11 de julho de 2020

Salão


Buscarei em cada gesto teu
a riqueza que a tua
delicadeza me revelar.

Serei fiel à tua expressão,
fiel à tua agônica mão.

Constante em ver teus olhos;
mais que isso: o teu olhar;

Sabe que quando quiseres
um exame seguro do teu jeito,
encontrarás neste escrito,
a teu respeito, 
a imagem de ti:

A mais perfeita!

Pois se tu o revisitares
acharás o mesmo que
foste um dia.

Como uma representação que fica
na lembrança feito um reflexo
de uma velha fotografia. 

E tua existência será a própria imagem
na ante sala deste salão que só nos resta
por estarmos nós mesmos um dia.


sexta-feira, 10 de julho de 2020

Longo olhar



Fim de tarde, 
pôr do sol.  

E com ele a estrela vespertina, 
de vespertina lembrança: 

De um dia inteiro, 
de um ano inteiro, 
de uma vida inteira, 

De tudo que foi inteiro, 
um dia. 

E com os sentidos todos, 
põe-se com o sol:  

Um silencioso 
e longo olhar. 

sexta-feira, 3 de julho de 2020

Gente



Chama tu:
Gente.

Modo
imperativo,
afirmativo
de chamar.

Chama tu:
Gente.

Pois não sendo uma
figura de linguagem,
um eufemismo
simplesmente.

Chama tu:
 
Gente.


quinta-feira, 2 de julho de 2020

Entardecer


Seguindo com o sol em um
último raio de luz amarelado
nas tampas dos morros vastos
e carpidos.

E percebendo no repouso escondido
das coisas que parecem se mover,

O instante não é senão um deparar-se,
um depurar-se, um aparente descanso
fora de qualquer alcance.

Uma espécie de surdez
que está nas coisas,
não permitindo assim
uma porta de entrada.

Mas para que entrar
se já se faz dentro?

Então,
sentindo
e consentindo.

Como quem sente
e consente,

Segue...


quarta-feira, 1 de julho de 2020

Sonho


Sonhei que estava com o poeta,
mas não o indaguei.


Em sua riqueza que me revestia
de uma profundidade em comum,
levei-o para uma certa intimidade
feito assim os que dormem e sonham.

E sonho.

Esquecido como os que se
esquecem do que sonharam,
procuro na poesia a porta
que se fez a mim um dia:

Sobre o belo e a beleza;
sobre o poema e a sua grandeza.


domingo, 28 de junho de 2020

A morte do barraqueiro


Assisto à festa
de homens e mulheres,
de velhos e crianças,
de moças e rapazes.

E em festa

me vou.

Em um balão

de vento
pulo.

Eu viro
cambalhota,
eu grito.

Muito à vontade,
e bem diferente do
que sou.

Balão de ar
que me faz
esquecer a própria
cidade em festa,
agitando-se diante
e dentro de mim.

Ouço tiros.


E num instante,

meu ser esmorece.

Meu balão

inventado de ar
esvazia-se.

E a sensação

de que à frente
há um caminho,
veio acompanhada
de um outro distante
que não mais.

Os tiros na madrugada

mataram o barraqueiro.

"Se era noivo, se era virgem,

se era alegre, se era bom,
não sei,
é tarde para saber".

E no local do crime,

sob os olhos dos festeiros,
jazia os olhos frios do
Barraqueiro sobre o espesso
sangue na rua.