Memória de olvido

Dois tempos:
Eu  seguindo,
e tu não.

Duas vidas:
A minha ainda,
e a tua finda.

Olhar

Nasce o dia,

é manhã.

A lenta luz do sol,

que cai sobre as

linhas silenciosas

das vastas montanhas,

faz-se imensa.

E os olhos misturam-se

a tudo.

E tudo agora

é só olhar.

Vento, vento...

Numa brisa suave

sopra o vento sobre as
folhas banhadas de sol.

O vento, sem que se saiba

de onde vem e nem pra onde vai,
invade os cômodos de uma velha casa.

Vasculha de um canto a outro
e refresca a quietude alerta
das aranhas.

Passa...

Como se não passasse
pelos que assistem à televisão.

E qual um menino brinca
com as folhas,
com a quietude,
e os distraídos.

Sendo o sopro do espírito

mesmo que esquecido,

escuta-se porém entre

os pequeninos:

Vento, vento
caxinguelê
cachorro do mato
quer me morder.

São estes que se divertem
com o vento e o colorido mágico
das pipas que empinam no céu.

Vento, vento
caxinguelê...

O metafísico

"Como suportar, como salvar o visível, senão

fazendo dele a linguagem da ausência,

do invisível".

Tales de Mileto

perplexo caiu.

A escrava da Trácia

zombou e sorriu:

Se tu não vês

o que está sob teus pés,
por que indagas do que

está acima da tua cabeça?

Mas, senhora,
que é a vida senão
uma combinação
de astros e poços,
enlevos e precipícios?

Tradição

Quando cair.

Quando acabar.

Quando tudo for uma

vasta terra devastada;

À distância, há de se desejar

aquilo o que nunca se viu,

mas que se ouviu somente falar.

O movimento substancial

Fosse o teu olhar

que assiste à realidade

para além dos olhos teus.

 

Olhar que ora é
de duração,
ora não.

E te faz ver a metafísica
de um simples gesto

até.

Mas não!

São os teus olhos

voltados para um mundo

cheio de coisas lindas

e findas.

Lisboa, rainha do mar