Eu
que supondo ver
não via.
Eu
que na categoria
da paixão me
feria.
Eu
que da substância
me esquecia.
Eu
que preso aos
acidentes,
infelizmente,
me perdia.
"Porque, a meu ver, lhe falei, o que tem de ser feito não espera pela disposição do trabalhador, sendo de necessidade que este se dedique seriamente ao seu ofício, em vez de considerá-lo mero passatempo." (Platão, A República, 370 c)
quarta-feira, 18 de julho de 2018
segunda-feira, 2 de julho de 2018
Vento, vento caxinguelê
Corre suave o vento sobre
as folhas banhadas do sol de verão.
E elas, em um balanço quieto,
vêm e vão.
Desarranja os cabelos da moça.
E ela certa de que os acertou,
desarranja-os ainda mais.
Ao mesmo tempo,
invade os cômodos
de uma casa velha.
Vasculha de um canto a outro
e refresca a quietude alerta
das aranhas.
Também passa,
como se não passasse,
pelos distraídos que assistem
à televisão.
Entra e sai.
Vem e vai.
Qual um menino de um
lugar a outro,
e como tal brinca
com as folhas e
com os distraídos
e com os cabelos
das moças e
dos moços.
De longe,
escuta-se, que tempo!
– Vento, vento
caxinguelê
cachorro do mato
quer me morder.
Ah!
São os meninos
que se divertem
sob o colorido mágico
das pipas que
empinam no céu.
– Vento, vento...
as folhas banhadas do sol de verão.
E elas, em um balanço quieto,
vêm e vão.
Desarranja os cabelos da moça.
E ela certa de que os acertou,
desarranja-os ainda mais.
Ao mesmo tempo,
invade os cômodos
de uma casa velha.
Vasculha de um canto a outro
e refresca a quietude alerta
das aranhas.
Também passa,
como se não passasse,
pelos distraídos que assistem
à televisão.
Entra e sai.
Vem e vai.
Qual um menino de um
lugar a outro,
e como tal brinca
com as folhas e
com os distraídos
e com os cabelos
das moças e
dos moços.
De longe,
escuta-se, que tempo!
– Vento, vento
caxinguelê
cachorro do mato
quer me morder.
Ah!
São os meninos
que se divertem
sob o colorido mágico
das pipas que
empinam no céu.
– Vento, vento...
terça-feira, 3 de abril de 2018
Contabilidade
Neide Archanjo
As perdas
as dores
as faltas
as feridas.
As festas
os amores
as graças
os marfins.
É apenas a vida,
ai de mim!
sábado, 31 de março de 2018
OFF
Neide Archanjo
Dos teus braços
talvez dos teus olhos
vem esta ternura
que minha alma
alcança.
Mas pouco sabes de mim.
O amor nunca sabe
e é melhor assim.
terça-feira, 6 de março de 2018
Ricardo Reis
Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos.)
Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.
Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassosegos grandes.
Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.
Amemo-nos tranquilamente, pensando que podiamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.
Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento —
Este momento em que sossegadamente não cremos em nada,
Pagãos inocentes da decadência.
Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.
E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim — à beira-rio,
Pagã triste e com flores no regaço.
Pôr-do-sol
Fim de tarde.
E o pôr-do-sol,
meu.
E a estrela vespertina,
de entardecida lembrança.
E a retomada
de um dia inteiro,
de um ano inteiro,
de uma vida inteira.
E, aos poucos, põe-se
escondido com o sol
esse meu insignificante,
esse meu insignificante,
silencioso e longo olhar.
sábado, 7 de outubro de 2017
Os ombros suportam o mundo
Carlos Drumond de Andrade
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.
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