quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Belíssimo

Natal 2014
Olavo de Carvalho
Diário do Comércio, 25 de dezembro de 2014 
          

              Que poderia ser o melhor Natal da sua vida? Aquele em que você percebesse claramente a Presença de Deus. Que é a Presença de Deus? Ela é tantas coisas que todos os livros do mundo não bastariam para descrevê-la. De todas essas coisas, sei somente uma, uminha. Ela pode ser muito modesta no conjunto, mas para mim é a mais importante, justamente porque é a única que  conheço com a certeza absoluta de quem viveu a experiência e sabe do que está falando.
            Vou tentar resumi-la. Espero que você goste deste presente de Natal.
            Pois bem, de Deus há uma coisa que sei com certeza, e é por esse canal que falo com Ele.
            Na verdade são duas coisas.
            A primeira é que Ele me conhece mais do que eu mesmo, e que nada que eu diga de mim para Ele será novidade. Ao contrário: conto um pedacinho da história e Ele me mostra o resto.
            A segunda coisa é essencial para que isso funcione.
            De todos os seres e coisas, só o ser humano tem um “eu”, ainda que incompleto e imperfeito.
            Deus, no entanto, tem um Eu completo e perfeito. Ele mesmo, por meio de Moisés, nos ensinou o Seu Nome, e esse nome é “Eu Sou”. Nele não há elementos estranhos, que Ele próprio desconheça. Em Deus não existe alteridade.
            Mas se o Eu de Deus é completo e perfeito, e o nosso é parcial, fragmentário e imperfeito, isso quer dizer que só temos um eu por Graça de Deus, porque Ele nos conferiu, na medida das nossas possibilidades, uma capacidade que, a rigor, só Ele possui.
            Foi nesse sentido que Paul Claudel, o poeta, disse: “Deus é Aquele que, em mim, é mais eu do que eu mesmo.”
            Deus, portanto, não só sabe tudo a seu respeito, mas é d’Ele que vem a capacidade que você tem de falar consigo mesmo (e com Ele), a capacidade de possuir uma “intimidade” que nenhuma coisa ou bicho jamais terá.
            Foi por isso que outro poeta, Antonio Machado, disse: “Quem fala consigo espera falar a Deus um dia.”
            Um dia? Quando? Você salta da conversa solitária para a conversa com Deus no instante em que toma consciência de que: (a) está falando com Alguém que conhece você melhor que você mesmo; (b) está falando com Alguém que é a própria raiz, a fonte mais íntima da sua capacidade de conhecer-se e de falar consigo mesmo. Alguém que é mais você do que você mesmo. Então você descobre que Ele sempre esteve aí e que a única coisa que separava você d’Ele era o que o separava de você mesmo.
            A partir desse instante, o falar consigo mesmo, na oração, é uma abertura para descobertas sem fim e para uma intensificação do seu eu, da sua consciência de si, da sua presença diante de si mesmo, dos outros eus, do mundo e do próprio Deus.
            É o seguinte. Quando você fala com alguém, não joga simplesmente palavras para todo lado, mas as dirige a uma pessoa determinada, da qual você sabe alguma coisa. Falar com Deus não é diferente disso. Você tem de se dirigir a Ele como a uma pessoa determinada, não um anônimo desconhecido que não está em parte alguma.
            Você tem de se apegar a algo que você sabe de Deus com certeza, e falar a esse algo como se fosse Deus inteiro. É claro que não é, mas Deus não liga para isso. Quando falamos com seres humanos, é a mesma coisa. Você fala com esta pessoa, neste lugar, num momento determinado do tempo, como se o que estivesse diante de você fosse a pessoa inteira, do nascimento à morte, sabendo que não é, mas que de algum modo o que você diz a esse recorte de pessoa chega à pessoa inteira.
            Só há um problema: Você quer mesmo saber tanta coisa a seu respeito? Se você não tem a firme disposição de aceitar o seu retrato tal como Deus o mostra, com todas as surpresas agradáveis e desagradáveis que Ele tem para lhe mostrar, Ele não lhe mostrará nada.
            Às vezes queremos contar a Deus os nossos pecados, mas como podemos fazê-lo, se é o próprio Espírito Santo quem nos ensina quais são esses pecados? Às vezes pensamos que é um, e na verdade é outro. Uma boa coisa é pedir a Deus que lhe revele seus verdadeiros pecados, para que você os confesse. Nos dias seguintes você vai se lembrar de vários deles, que já tinham se perdido na memória ou que nunca estiveram lá.
            Mas é claro que o que estou dizendo não se refere só a pecados. Você pode pedir que Deus lhe mostre quem você é. Só que, se Ele mostrar tudo de uma vez, não caberá no seu círculo de atenção. Portanto, peça que Ele lhe revele, de tudo quanto você é, só aquilo que Ele acha verdadeiramente importante que você saiba na presente etapa da sua vida.
            Todos nós falamos de nós mesmos usando a palavra “eu”. O eu é o centro agente e consciente que tenta dirigir os nossos atos e pensamentos no meio de uma gigantesca confusão que vem do nosso inconsciente, do meio social, de fragmentos de conversas entreouvidas, da TV, do diabo. Ora, toda essa confusão está em nós, ela é nós de algum modo, mas não é o nosso “eu”. Isso quer dizer que cada um de nós só é um “eu” de maneira parcial e imperfeita. Somos muito imperfeitamente personalizados. Há muitos pedaços em nós que nos são estranhos, que são anônimos. Pedaços de nós que são coisa, e não pessoa.
            Os bichos e coisas ao nosso redor não têm um eu. Não podem falar consigo mesmos, viver a vida interior de alguém que se conhece como centro agente, responsável, consciente, ao menos em parte, da sua história e co-autor consciente, espera-se, dos capítulos restantes.
            Descubra isto neste Natal e seja feliz.

sábado, 20 de setembro de 2014

Imitá-los?

“De fato o que mais nos choca não é a sinceridade, às vezes impertinente: é a arranhadela feita com mão de gato, a perfídia embrulhada num sorriso, a faca de dois gumes, alfinetes espalhados numa conversa.” Graciliano Ramos.

Numa reunião de professores (na qual estive presente) houve uma discussão sem pé e sem mão e sem cabeça. Cheia de "perfídia embrulhada num sorriso", ou de "arranhadela feita com mão de gato".

A verdade não é somente discurso onde cada qual se expressa como bem entender, não. Tampouco o homem é um balão a passear ao sabor dos ventos. Ele pode até ser um balão, como ensina Sertillanges, mas, dês que um balão preso à terra. A realidade, pois, não pode ser negligenciada, e a pergunta essencial deverá ser feita: "como é que o intelecto usa a linguagem para traduzir a realidade".

Voltando à vaca fria, os presentes aproveitaram a chance para engrossar ainda mais o “diálogo”, pois além de falarem sobre Paulo Freire, falavam também de Marx. Além disso, falavam mal do capitalismo, não obstante o fato de todos terem carro, todos vestidos de calça jeans, perfumados, casas confortáveis; em suma, uma autêntica vida burguesa.

Gosto de pessoas e autores que nos dão o tom, habituam-nos ao ar das montanhas, como ensina Sertillanges; não aqueles que por causa dos títulos julgam-se capazes. Devemos prestar atenção não em quem diz, mas no que de bom está sendo dito guardando-o na memória, ensina São Tomás de Aquino.

Aconselha-nos ainda esse mestre do pensamento: "procures imitar os exemplos dos santos e dos bons". Sem dúvida, Paulo Freire e Karl Marx não são bons, e muito menos santos. Por que então eu haveria de imitá-los?

sexta-feira, 20 de junho de 2014

 AD NAUSEAM II – O rigor intelectual dos “maiores” jornalistas brasileiros.





Mário Sérgio Conti é um dos heróis do jornalismo da esquerda brasileira. Fato por si só capaz de comprovar que não é por maldade que se diz que esquerdistas são, em geral, analfabetos.

Os esquerdopatas zurraram de felicidade quando o meninão publicou, na revista Piauí 83, um texto intitulado “Antijornalismo”, no qual o ínclito e denodado Conti dá aulas de rigor investigativo ao Otávio Cabral. Na ocasião apontou as supostas “barbaridades” cometidas por este ao escrever “Dirceu – A Biografia”.

No entanto, a auto atribuída seriedade do senhor Mário Sérgio Conti foi desmascarada pela própria revista Piauí pois na seção de cartas da edição publicada em agosto de 2013 podemos ler isso:  



“ENGANO FATAL
02/08/2013 19:53 Publicada na versão impressa

Gente, por favor, estou viva!
Na matéria “No epicentro da barafunda” (piauí_82, julho), de Mario Sergio Conti, sobre o Antonio Prata, minha única irmã, Ângela Carvalho, é citada, pois foi professora do Antonio. Meu filho assina a revista, recebemos aqui em casa, e qual não foi minha surpresa quando hoje li que eu... morri!
...
A professora contou que o interesse dos alunos pela literatura é cada vez menor. “A internet, a troca de mensagens e a televisão são onipresentes”, disse Ângela Carvalho. A irmã da professora morrera na semana anterior e Antonio Prata abraçou-a apertado e longamente.
...
Aiii! 
Gente, eu juro que estou viva, eu sou a única irmã da professora Ângela, escrevo esse e-mail e acho que não sou uma assombração. Quem faleceu foi nossa mãe.


NOTA DA REDAÇÃO: É com gosto que informamos que o departamento de checagem acaba de levar uma bala de borracha na testa. 

LÚCIA CARVALHO, SÃO PAULO (SP)”



Esquerdistas são, em regra, mestres da empulhação: acusam os outros de levianos enquanto comentem leviandades. Na mesmíssima publicação, meses após dizer que um colega de profissão produziu um  texto sem proceder a devida apuração, há uma carta de uma leitora que escreve para informar que está viva, ao contrário do afirmado pelo senhor Mário Sérgio Conti, em reportagem assinada, desmentindo a “apuração” feita e a autoridade do professor nesse tema.

E agora nosso estimado mestre-esquerdista-do-rigor-intelectual faz publicar na Folha de São Paulo uma entrevista exclusiva feita com o técnico da seleção brasileira. Ocorre que, o mestre da seriedade, do rigor intelectual, esse colosso das letras pátrias, ocupante do Olimpo do jornalismo pátrio, de onde julga todos os que não rezam por sua cartilha, não se tocou que entrevistou o sósia do Felipão, um ator da Zorra Total.

Sendo a história do Brasil uma eterna repetição de equívocos, não demora muito e voltaremos para apresentar outro erro desse gigante da “seriedade à brasileira” que será cometido dentro em breve. CQD.   

quarta-feira, 18 de junho de 2014

AD NAUSEAM – Fragmentos de história cíclica.



O Brasil é um país de uma previsibilidade incrível. A capacidade que possuem nossos analistas, jornalistas e demais “istas” sabichões de jamais largar o osso em qualquer tema, insistindo em políticas comprovadamente erradas, não nos deixam dúvida quanto ao grande passado que temos pela frente.

Apesar da produção agrícola superavitária, ainda há imbecis em número suficiente para, fazendo pose de sério, falar em reforma agrária.

O maior intelequitual do Maranhão, classificado pelo maior çábil da estória do Brasil de um “incapaz” que por sua contribuição ao país não merece “ser tratado como um cidadão comum” (enlace ou, em português contemporâneo, link para o vídeo aqui), usando seu reconhecido domínio do idioma pátrio e refinado humor criou o ministério-acróstico (Dec. 91.214/1985) cujo nome já indicava seu conteúdo e destino: Ministério Extraordinário da Reforma e Desenvolvimento Agrário.

Quando vejo as bandeiras do MST e agora do MTST (como essas siglas se reproduzem, né? O antigo GLT já possui umas cinqüenta letras) antevejo (sic) nosso passado nos aguardando: isso vai acabar dando em MERDA.

P.S. Quando o GLTBS (é a última atualização que possuo. Me desculpem se deixei de fora algumas letras) vai incluir um A, de assexuado? E o direito das amebas? Cadê a Maria do Rosário que não põe um fio dental e vai para a Parada Gay negociar com os companheiras e as companheiros um tratamento digno aos que não copulam? Parafraseando nosso çábil, é preciso melhorar a massa encefálica dentro do cérebro para as pessoas compreenderem que as amebas devem ser respeitadas.


segunda-feira, 2 de junho de 2014

Uma questão de vestibular

"O que pessoas modernas dizem com a maior convicção dirigindo-se a platéias apinhadas geralmente vai contra os fatos...". (G. K. Chersterton)

(Fuvest) “Considerados em seu conjunto, são a parte mais baixa da sociedade. Ocupam uma posição intermediária entre o trabalhador e o aristocrata: ao empregar o primeiro, e ao ser empregado do segundo, insensivelmente contraem os vícios do tirano e do escravo. São os tiranos dos que estão acima deles: usurários por necessidade e hábito, aproveitam à (sic)debilidade do trabalhador e exploram tudo o que podem da vaidade do aristocrata. Desde logo, as classes médias são as destruidoras da liberdade e da felicidade em todos os países”.(GUARDIAN, 23 março de 1833).

a) Qual o tema deste texto de 1833?
b) Relacione o texto com o momento histórico no qual foi elaborado.


Eis aí uma questão de história encontrada em um dos mais importantes vestibulares do Brasil. Atenção: poderá parecer para alguns tratar-se de exagero de minha parte, porém estou convencido de não está exagerando em nada. A questão retromencionada sugere para o aluno, apesar das perguntas insinuarem uma aparente isenção, que este está impedido de dar a resposta real, isto é, mostrar as argúcias sofísticas do texto. De fato, não é esse o desejo do examinador, tanto que a resposta se encontra na própria pergunta. Qual não! Há sim um ódio mascarado nas entrelinhas, uma mensagem subliminar de revolta. Um, sei lá, antiamericanismo.

De mais a mais, para esse texto não há resposta, por mais se esquente a cabeça, não há resposta. Salvo se se mostrasse sua anomalia. Não há outro modo de condizê-lo senão por sua doença, qual o médico que começa por apalpar o enfermo até pôr o dedo na ferida. Todavia o aluno há de submeter-se aos caprichos do examinador, pois do contrário não terá - no ano seguinte à prova - sua vaguinha na tão sonhada instituição de "feras".

Não obstante isso, para responder as questões "a" e "b" dever-se-ia primeiro investigar o quadro doentio da década de 1833, encontrado em seus principais representantes; que estão, a propósito, afastados da realidade.

Vai, querido leitor, uma passagem do livro de Von Mises, As Seis Lições, a fim de mantê-lo protegido acerca de algum desonesto elaborador de prova. Ei-la:

“A velha história, repetida centenas de vezes, de que as fábricas empregavam mulheres e crianças que, antes de trabalharem nessas fábricas, viviam em condições satisfatórias, é um dos maiores embustes da história. As mães que trabalhavam nas fábricas não tinham o que cozinhar: não abandonavam seus lares e suas cozinhas para se dirigir às fábricas – acorriam a elas porque não tinham cozinhas e, ainda que as tivessem, não tinham comida para nelas cozinharem. E as crianças não provinham de um ambiente confortável: estavam famintas, estavam morrendo. E todo o tão falado e indescritível horror do capitalismo primitivo pode ser refutado por uma única estatística: precisamente nesses anos de expansão do capitalismo na Inglaterra, no chamado período da Revolução Industrial inglesa, entre 1760 e 1830, a população do país dobrou, o que significa que centenas de milhares de crianças – que em outros tempos teriam morrido – sobreviveram e cresceram, tornando-se homens e mulheres.”
 
De resto, se você se aventurar por esse caminho, será sem duvida nenhuma reprovado. De qualquer maneira, mais vale ser reprovado em nome da verdade do que em nome de qualquer instituição.
.

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Passado presente

Instantes retornam
em conceitos,
conforme a lógica.

Apesar de ser outro o tempo,
o que é representação
continua...
... Fantasma.

Resta na memória,
dado um espaço atual,
um tempo pretérito.

Que se conjuga
internamente:
passado presente.

sábado, 8 de março de 2014

Porto alegre

Ao caminhar até a porta,
ficou algo, ouviste?
É já o tempo ido... Amor.
Qual não!
Vi teus olhos após
e nestes se anunciava,
através dos meus,
a partida...

... Caminhamos
até a estação.

Lá, me despedindo,
olhei para trás...
E soprei-te um beijo
como se vento fosse.

E quando já não te via mais,
voltei.
Mas, naquele lugar de espera,
só restava a lembrança
de te ver em pé,
vendo-me partir.