segunda-feira, 2 de junho de 2014

Uma questão de vestibular

"O que pessoas modernas dizem com a maior convicção dirigindo-se a platéias apinhadas geralmente vai contra os fatos...". (G. K. Chersterton)

(Fuvest) “Considerados em seu conjunto, são a parte mais baixa da sociedade. Ocupam uma posição intermediária entre o trabalhador e o aristocrata: ao empregar o primeiro, e ao ser empregado do segundo, insensivelmente contraem os vícios do tirano e do escravo. São os tiranos dos que estão acima deles: usurários por necessidade e hábito, aproveitam à (sic)debilidade do trabalhador e exploram tudo o que podem da vaidade do aristocrata. Desde logo, as classes médias são as destruidoras da liberdade e da felicidade em todos os países”.(GUARDIAN, 23 março de 1833).

a) Qual o tema deste texto de 1833?
b) Relacione o texto com o momento histórico no qual foi elaborado.


Eis aí uma questão de história encontrada em um dos mais importantes vestibulares do Brasil. Atenção: poderá parecer para alguns tratar-se de exagero de minha parte, porém estou convencido de não está exagerando em nada. A questão retromencionada sugere para o aluno, apesar das perguntas insinuarem uma aparente isenção, que este está impedido de dar a resposta real, isto é, mostrar as argúcias sofísticas do texto. De fato, não é esse o desejo do examinador, tanto que a resposta se encontra na própria pergunta. Qual não! Há sim um ódio mascarado nas entrelinhas, uma mensagem subliminar de revolta. Um, sei lá, antiamericanismo.

De mais a mais, para esse texto não há resposta, por mais se esquente a cabeça, não há resposta. Salvo se se mostrasse sua anomalia. Não há outro modo de condizê-lo senão por sua doença, qual o médico que começa por apalpar o enfermo até pôr o dedo na ferida. Todavia o aluno há de submeter-se aos caprichos do examinador, pois do contrário não terá - no ano seguinte à prova - sua vaguinha na tão sonhada instituição de "feras".

Não obstante isso, para responder as questões "a" e "b" dever-se-ia primeiro investigar o quadro doentio da década de 1833, encontrado em seus principais representantes; que estão, a propósito, afastados da realidade.

Vai, querido leitor, uma passagem do livro de Von Mises, As Seis Lições, a fim de mantê-lo protegido acerca de algum desonesto elaborador de prova. Ei-la:

“A velha história, repetida centenas de vezes, de que as fábricas empregavam mulheres e crianças que, antes de trabalharem nessas fábricas, viviam em condições satisfatórias, é um dos maiores embustes da história. As mães que trabalhavam nas fábricas não tinham o que cozinhar: não abandonavam seus lares e suas cozinhas para se dirigir às fábricas – acorriam a elas porque não tinham cozinhas e, ainda que as tivessem, não tinham comida para nelas cozinharem. E as crianças não provinham de um ambiente confortável: estavam famintas, estavam morrendo. E todo o tão falado e indescritível horror do capitalismo primitivo pode ser refutado por uma única estatística: precisamente nesses anos de expansão do capitalismo na Inglaterra, no chamado período da Revolução Industrial inglesa, entre 1760 e 1830, a população do país dobrou, o que significa que centenas de milhares de crianças – que em outros tempos teriam morrido – sobreviveram e cresceram, tornando-se homens e mulheres.”
 
De resto, se você se aventurar por esse caminho, será sem duvida nenhuma reprovado. De qualquer maneira, mais vale ser reprovado em nome da verdade do que em nome de qualquer instituição.
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sexta-feira, 4 de abril de 2014

Passado presente

Instantes retornam
em conceitos,
conforme a lógica.

Apesar de ser outro o tempo,
o que é representação
continua...
... Fantasma.

Resta na memória,
dado um espaço atual,
um tempo pretérito.

Que se conjuga
internamente:
passado presente.

sábado, 8 de março de 2014

Porto alegre

Ao caminhar até a porta,
ficou algo, ouviste?
É já o tempo ido... Amor.
Qual não!
Vi teus olhos após
e nestes se anunciava,
através dos meus,
a partida...

... Caminhamos
até a estação.

Lá, me despedindo,
olhei para trás...
E soprei-te um beijo
como se vento fosse.

E quando já não te via mais,
voltei.
Mas, naquele lugar de espera,
só restava a lembrança
de te ver em pé,
vendo-me partir.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Meu camafeu

Não carrego uma imagem
em relevo no peito, não.

Carrego sim no
coração a lembrança,
e sem ser este pedra
de camada diferente,
é pedra preciosa
igualmente.

Tenho o meu camafeu, moço!
Não pendurado no pescoço,
mas impresso no coração. 

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Uma notinha triste extraída de um jornal


Há pouco estava lendo uma reportagem publicada no jornal O Globo sobre o aproveitamento do Brasil no ranking de educação. A matéria de capa foi: “PAÍS AVANÇA, MAS AINDA ESTÁ ENTRE OS PIORES.”

O Brasil encontra-se na seguinte colocação: 58°, dos 65 países participantes. Segundo a matéria, fora o país cujo desempenho em matemática foi o melhor junto aos países avaliados entre os anos 2003 a 2012.

Ora, se os alunos tiveram maior desempenho no período retromencionado, este desempenho só se dá em relação a todos os países participantes. Sendo assim, os primeiros lugares avançaram para aonde? Os que igualmente ficaram acima do Brasil, avançaram para aonde? Em outros termos, se há ainda para aonde avançar, os países com desempenho melhor que o Brasil avançaram quanto, visto que estão nas melhores colocações! E, por outro lado, se os alunos brasileiros obtiveram melhor desempenho, é lógico que este desempenho está muito aquém do desempenho de outros alunos de outros países, senão o país não haveria de ficar na vergonhosa 58° posição.

Avança como? Se o país encontra-se entre os piores no ranking, distante apenas do último colocado sete posições. Só pelo simples aumento de 35 pontos na média de matemática? Sinceramente, não faz nem cócegas, se fizesse não ficava na posição que ficou, ou seja, na miserável 58°. Tenha paciência.

Ademais, a matéria fez-me lembrar do senhor Galvão Bueno gritando na TV: Rubens Barrichello cruuuza a linha de chegaaada em terceiiiro lugaar. Após, a vinheta: Brasiiiil.

Encerrando, não me recordo agora se foi Blaise Pascal, mas li algo assim (cito de cabeça): Colocamos um tapume nos olhos e caminhamos para o abismo sem saber que estamos caminhando para ele.


quarta-feira, 25 de setembro de 2013

O Amigo do Cáo





Homenagem ao meu amigo inesquecível, Caipira. 
Saudades suas irmão.





Para o meu grande irmão: Caipira.


"Um homem dura enquanto outros passam,
e passa enquanto outros duram." (Eric Voegelin)


Tenho conhecido algumas coisas:
o ranger do bambu-gigante
e o som de suas folhas,
o peso do metal na palma de minha mão,
a aurora,
o pôr-do-sol,
a noite que envolve,
o luar,
a morte,
a vida.

Tenho conhecido.

Conheci a esperança,
o sono até.
Mas nesse seguir inexorável
conheci também
o temor,
a vigília.
A minha estupidez,
conheci.

E entre um conhecer e outro, a pergunta que sempre me faço:
Que rio é esse que flui entre o que sou
e o que fui?

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Porto Alegre



Ao caminhar até a porta,
ficou algo, ouviste?

É já o tempo ido.,
amor.

Qual não!

Vi teus olhos após
e nestes se anunciava,
através dos meus,
a partida.

Caminhamos
até a estação.

Lá, me despedindo,
olhei para trás
e soprei-te um beijo,
como se vento fosse.

E quando já
não te via mais,
voltei.

Mas, naquele lugar de espera,
só restava a lembrança
de te ver em pé,
vendo-me partir.