segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Poema

"Amar é mudar a alma de casa",
é ter no outro, nosso pensamento.
Amar é ter coração que abrasa,
amar, é ter na vida um acalento.

Amar é ter alegria que extravasa,
amar é sentir-se no firmamento.
"Amar é mudar a alma de casa",
é ter no outro, nosso pensamento.

Amar, é aquilo que embasa,
é ter comprometimento.
Amar é voar sem asa,
e porque amar é acolhimento,
"amar é mudar a alma de casa".
Mário Quintana

domingo, 2 de dezembro de 2018

A Missa

Cantei.

Clamei.

Escutei a criança do amém
distinguido entre os améns.

Louvei:


Eis-me aqui Senhor.

domingo, 18 de novembro de 2018

Foto





Por que estamos sempre admirados com as coisas do alto, ou que nos elevam às alturas? Será saudade da nossa verdadeira pátria? Diz Santo Agostinho: "Criaste-nos para Vós, Senhor, e o nosso coração não descansa enquanto não repousar em Vós".

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Logos heraclítico


"Um homem dura enquanto outros passam,
e passa enquanto outros duram".


Tenho conhecido
o ranger do bambu-gigante
e o som de suas folhas,
o peso do metal
na palma de minha mão.

A aurora,

e o pôr do sol.

A noite que

envolve,
e o luar.

Tenho conhecido
a conquista
e a derrota.

A morte
e a vida.

Tudo isso
tenho conhecido.


Conheci a esperança,
e o sono.

O temor,

e a vigília.

Ademais,
a minha estupidez,
conheci.

O ridículo de
ser ridículo,
também conheci.

Conheci tantas coisas.

Mas entre um
conhecer e outro,
a pergunta que
sempre me faço:

Que rio é esse que

flui entre o que sou
e o que fui?

domingo, 29 de julho de 2018

Se fosses

Se fosses
somente o
teu desenho

nestas vastas
montanhas.

Se fosses

só a tua imensa
antemanhã azul

que abraça
toda a cidade.

Se fosses ainda
o brilho teu de uma

exclusiva manifestação.

Mas não!

É o sol que
te fecunda
e te faz luar.

quarta-feira, 18 de julho de 2018

Categorias do ser

Eu
que supondo ver
não via.

Eu

que na categoria
da paixão me
feria.

Eu

que da substância
me esquecia.

Eu
que preso aos
acidentes,
infelizmente,
me perdia.

segunda-feira, 2 de julho de 2018

Vento, vento caxinguelê

Corre suave o vento sobre
as folhas banhadas do sol de verão.
E elas, em um balanço quieto,
vêm e vão.

Desarranja os cabelos da moça.
E ela certa de que os acertou,
desarranja-os ainda mais.

Ao mesmo tempo,
invade os cômodos
de uma casa velha.

Vasculha de um canto a outro
e refresca a quietude alerta
das aranhas.

Também passa,
como se não passasse,
pelos distraídos que assistem
à televisão.

Entra e sai.
Vem e vai.

Qual um menino de um
lugar a outro,
e como tal brinca
com as folhas e
com os distraídos
e com os cabelos
das moças e
dos moços.

De longe,
escuta-se, que tempo!

– Vento, vento
caxinguelê
cachorro do mato
quer me morder.

Ah!
São os meninos
que se divertem
sob o colorido mágico
das pipas que
empinam no céu.

– Vento, vento...

terça-feira, 3 de abril de 2018

Contabilidade

Neide Archanjo

As perdas
as dores
as faltas
as feridas.

As festas
os amores
as graças
os marfins.

É apenas a vida,
ai de mim!

sábado, 31 de março de 2018

OFF

Neide Archanjo

Dos teus braços
talvez dos teus olhos
vem esta ternura
que minha alma
alcança.
Mas pouco sabes de mim.

O amor nunca sabe
e é melhor assim.

terça-feira, 6 de março de 2018

Ricardo Reis



Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
                   (Enlacemos as mãos.)

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
                   Mais longe que os deuses.

Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
                   E sem desassosegos grandes.

Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
                   E sempre iria ter ao mar.

Amemo-nos tranquilamente, pensando que podiamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
                   Ouvindo correr o rio e vendo-o.

Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento —
Este momento em que sossegadamente não cremos em nada,
                   Pagãos inocentes da decadência.

Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
                   Nem fomos mais do que crianças.

E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim — à beira-rio,
                   Pagã triste e com flores no regaço.

Pôr-do-sol


Fim de tarde.

E o pôr-do-sol,
meu.

E a estrela vespertina,
de entardecida lembrança.

E a retomada
de um dia inteiro,
de um ano inteiro,
de uma vida inteira.

E, aos poucos, põe-se
escondido com o sol
esse meu insignificante,
silencioso e longo olhar.