quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

O portão


quinta-feira, 26 de novembro de 2015

O gerifalte


e o Morholt parecia o gerifalte que fecham numa gaiola junto com pequenos pássaros: quando ele entra, todos ficam mudos.

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Camafeu

Camafeu: é uma pedra semi preciosa em tom cinza, com duas camadas de cores diferentes, numa das quais apresenta uma figura em relevo, usada como pingente.

À Gaia

Não carrego uma imagem
Em relevo no peito.
  
Carrego no coração
A lembrança.

E sem ser esse pedra
De camada diferente,
É pedra preciosa
Igualmente.

Tenho o meu camafeu, moço!
Não pendurado no pescoço,
Mas impresso no coração.

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Canção do amor imprevisto




Eu sou um homem fechado.
O mundo me tornou egoísta e mau.

E a minha poesia é um vício triste,
Desesperado e solitário
Que eu faço tudo por abafar.

Mas tu apareceste com a tua boca fresca de madrugada,
Com o teu passo leve,
Com esses teus cabelos...

E o homem taciturno ficou imóvel,
sem compreender nada,
numa alegria atônita...

A súbita, a dolorosa alegria de um espantalho inútil
Aonde viessem pousar os passarinhos.

Mário Quintana

terça-feira, 15 de setembro de 2015

O amigo do Cáo

MEMÓRIAS DE UM ALUNO

Tive meu encontro com um nome célebre, perdido, citado em nota de rodapé, a título de curiosidade. Era o nome de Baldassare Castiglione, autor de O Cortesão. Aqueles modos pomposos do mundo aristocrático que me eram dados pelas grandes gravuras dos capítulos sobre a alta renascença impressionavam-me o espírito. Eram cavaleiros, guerreiros, nobres que se punham em face da morte em defesa dos valores tão obscuramente prezados pelo adolescente que eu era: honra, coragem, justiça. 


Quando descobri ser este o manual de comportamento de seres tão elevados, quis comprá-lo imediatamente. Entrevia em seus ensinamentos toda a distinção por mim imaginada. Não achei o livro, mas me contentei com outro parecido: A arte da prudência, de Baltasar Gracián. Folheei alguns e me encantou o estilo barroco, cheio de contorções sintáticas, malabarismos que ocultavam o sentido dos conselhos e os fazia parecer verdadeiros segredos de iniciado -- vi na adoração daquele estilo o caminho necessário para a iniciação; só os homens que amassem aquelas verdades teriam acesso a elas pela perseverança. Deliciava ao reler aforismo e não compreender nada. Foi o primeiro livro que li por liberdade, seguido do Rei Lear. 

Como cheguei até o livro de Shakespeare? Não me acode lembrança. Mas é possível que tenha escutado ser ele o maior dos escritores, aquele que continha todo o conhecimento do céu e da terra. Busquei-o por vontade de me distinguir dos outros. Assim correram os meses, quando alcancei os quinze anos e cheguei no ensino médio. Nada tinha lido de verdade senão dois livros. De poesia, tudo ignorava e qualquer verso rimado me parecia extraordinário. De onde me veio este interesse? Foi, então, que conheci naquele ano um modelo, José Carlos França. 

França, meu grande professor. Quando era criança, brincando no pátio da escola, me puxava pelo braço e dizia de cor algum verso misterioso seguido da assinatura do autor. Causava-me impressão um homem que decorasse tantas poesias e as recitasse como parte da própria fala, sem afetação. 


Eu ria, mas o admirava em segredo. Seria meu professor quando alcançasse o ensino médio e foi neste ano que se operou sua influência essencial e permanente. França, meu grande professor. Suas aulas de filosofia, depois de convertido ao catolicismo, eram missas sem intróito, sem kyrie, sem comunhão: eram compostas tão somente de homilia, e também de leituras, que não se afastavam em nada do efeito de um evangelho. O maior orador que já vi. Diante dos alunos se transfigurava e todo o organismo se contraía para a penosa expressão da verdade. Ele é da linhagem dos Pe Antônio Vieira. Um pregador, um orador sacro aparelhado de todos os recursos da dicção profana, da piada erótica à invocação dos santos.



Para nós, molequinhos imberbes com a cara furada de bexigas, era um tipo de herói: de autêntica rusticidade caipira, mas de elegância verdadeira; e também verdadeiro poeta, capaz de mover nossos sentimentos mais nobres pela modulação mágica de voz e gesto. Naqueles anos de convívio plantou em meu coração todos os impulsos necessários para que eu me tornasse um homem culto, sem me afeminar, mas, pelo contrário, fazendo da cultura uma maneira de me converter em um homem adulto, uma potência viva. Anos depois concluí que naquela pequena escola de interior existia um homem de letras que seria admirado por La Bruyère, porque "seus discursos elevavam o espírito e inspiravam sentimentos nobres e de coragem".

domingo, 26 de abril de 2015

AD NAUSEAM II – O rigor intelectual dos “maiores” jornalistas brasileiros

Mário Sérgio Conti é um dos heróis do jornalismo da esquerda brasileira. Fato por si só capaz de comprovar que não é por maldade que se diz que esquerdistas são, em geral, analfabetos.

Os esquerdopatas zurraram de felicidade quando o meninão publicou, na revista Piauí 83, um texto intitulado “Antijornalismo”, no qual o ínclito e denodado Conti dá aulas de rigor investigativo ao Otávio Cabral. Na ocasião apontou as supostas “barbaridades” cometidas por este ao escrever “Dirceu – A Biografia”.

No entanto, a auto atribuída seriedade do senhor Mário Sérgio Conti foi desmascarada pela própria revista Piauí pois na seção de cartas da edição publicada em agosto de 2013 podemos ler isso:  



“ENGANO FATAL
02/08/2013 19:53 Publicada na versão impressa

Gente, por favor, estou viva!
Na matéria “No epicentro da barafunda” (piauí_82, julho), de Mario Sergio Conti, sobre o Antonio Prata, minha única irmã, Ângela Carvalho, é citada, pois foi professora do Antonio. Meu filho assina a revista, recebemos aqui em casa, e qual não foi minha surpresa quando hoje li que eu... morri!
...
A professora contou que o interesse dos alunos pela literatura é cada vez menor. “A internet, a troca de mensagens e a televisão são onipresentes”, disse Ângela Carvalho. A irmã da professora morrera na semana anterior e Antonio Prata abraçou-a apertado e longamente.
...
Aiii! 
Gente, eu juro que estou viva, eu sou a única irmã da professora Ângela, escrevo esse e-mail e acho que não sou uma assombração. Quem faleceu foi nossa mãe.


NOTA DA REDAÇÃO: É com gosto que informamos que o departamento de checagem acaba de levar uma bala de borracha na testa. 

LÚCIA CARVALHO, SÃO PAULO (SP)”



Esquerdistas são, em regra, mestres da empulhação: acusam os outros de levianos enquanto comentem leviandades. Na mesmíssima publicação, meses após dizer que um colega de profissão produziu um  texto sem proceder a devida apuração, há uma carta de uma leitora que escreve para informar que está viva, ao contrário do afirmado pelo senhor Mário Sérgio Conti, em reportagem assinada, desmentindo a “apuração” feita e a autoridade do professor nesse tema.

E agora nosso estimado mestre-esquerdista-do-rigor-intelectual faz publicar na Folha de São Paulo uma entrevista exclusiva feita com o técnico da seleção brasileira. Ocorre que, o mestre da seriedade, do rigor intelectual, esse colosso das letras pátrias, ocupante do Olimpo do jornalismo pátrio, de onde julga todos os que não rezam por sua cartilha, não se tocou que entrevistou o sósia do Felipão, um ator da Zorra Total.

Sendo a história do Brasil uma eterna repetição de equívocos, não demora muito e voltaremos para apresentar outro erro desse gigante da “seriedade à brasileira” que será cometido dentro em breve. CQD.  

sábado, 25 de abril de 2015

AD NAUSEAM – Fragmentos de história cíclica

O Brasil é um país de uma previsibilidade incrível. A capacidade que possuem nossos analistas, jornalistas e demais “istas” sabichões de jamais largar o osso em qualquer tema, insistindo em políticas comprovadamente erradas, não nos deixam dúvida quanto ao grande passado que temos pela frente.

Apesar da produção agrícola superavitária, ainda há imbecis em número suficiente para, fazendo pose de sério, falar em reforma agrária.

O maior intelequitual do Maranhão, classificado pelo maior çábil da estória do Brasil de um “incapaz” que por sua contribuição ao país não merece “ser tratado como um cidadão comum” (enlace ou, em português contemporâneo, link para o vídeo aqui), usando seu reconhecido domínio do idioma pátrio e refinado humor criou o ministério-acróstico (Dec. 91.214/1985) cujo nome já indicava seu conteúdo e destino: Ministério Extraordinário da Reforma eDesenvolvimento Agrário.

Quando vejo as bandeiras do MST e agora do MTST (como essas siglas se reproduzem, né? O antigo GLT já possui umas cinqüenta letras) antevejo (sic) nosso passado nos aguardando: isso vai acabar dando em MERDA.

P.S. Quando o GLTBS (é a última atualização que possuo. Me desculpem se deixei de fora algumas letras) vai incluir um A, de assexuado? E o direito das amebas? Cadê a Maria do Rosário que não põe um fio dental e vai para a Parada Gay negociar com os companheiras e as companheiros um tratamento digno aos que não copulam? Parafraseando nosso çábil, é preciso melhorar a massa encefálica dentro do cérebro para as pessoas compreenderem que as amebas devem ser respeitadas.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Camafeu revisitado

Não carrego uma imagem
em relevo no peito, não.

Carrego no
coração a lembrança,
e sem ser este pedra
de camada diferente
é pedra preciosa
igualmente.

Tenho o meu camafeu, moço!
Não pendurado no pescoço!,
mas impresso no coração. 

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Belíssimo

Natal 2014
Olavo de Carvalho
Diário do Comércio, 25 de dezembro de 2014 
          

              Que poderia ser o melhor Natal da sua vida? Aquele em que você percebesse claramente a Presença de Deus. Que é a Presença de Deus? Ela é tantas coisas que todos os livros do mundo não bastariam para descrevê-la. De todas essas coisas, sei somente uma, uminha. Ela pode ser muito modesta no conjunto, mas para mim é a mais importante, justamente porque é a única que  conheço com a certeza absoluta de quem viveu a experiência e sabe do que está falando.
            Vou tentar resumi-la. Espero que você goste deste presente de Natal.
            Pois bem, de Deus há uma coisa que sei com certeza, e é por esse canal que falo com Ele.
            Na verdade são duas coisas.
            A primeira é que Ele me conhece mais do que eu mesmo, e que nada que eu diga de mim para Ele será novidade. Ao contrário: conto um pedacinho da história e Ele me mostra o resto.
            A segunda coisa é essencial para que isso funcione.
            De todos os seres e coisas, só o ser humano tem um “eu”, ainda que incompleto e imperfeito.
            Deus, no entanto, tem um Eu completo e perfeito. Ele mesmo, por meio de Moisés, nos ensinou o Seu Nome, e esse nome é “Eu Sou”. Nele não há elementos estranhos, que Ele próprio desconheça. Em Deus não existe alteridade.
            Mas se o Eu de Deus é completo e perfeito, e o nosso é parcial, fragmentário e imperfeito, isso quer dizer que só temos um eu por Graça de Deus, porque Ele nos conferiu, na medida das nossas possibilidades, uma capacidade que, a rigor, só Ele possui.
            Foi nesse sentido que Paul Claudel, o poeta, disse: “Deus é Aquele que, em mim, é mais eu do que eu mesmo.”
            Deus, portanto, não só sabe tudo a seu respeito, mas é d’Ele que vem a capacidade que você tem de falar consigo mesmo (e com Ele), a capacidade de possuir uma “intimidade” que nenhuma coisa ou bicho jamais terá.
            Foi por isso que outro poeta, Antonio Machado, disse: “Quem fala consigo espera falar a Deus um dia.”
            Um dia? Quando? Você salta da conversa solitária para a conversa com Deus no instante em que toma consciência de que: (a) está falando com Alguém que conhece você melhor que você mesmo; (b) está falando com Alguém que é a própria raiz, a fonte mais íntima da sua capacidade de conhecer-se e de falar consigo mesmo. Alguém que é mais você do que você mesmo. Então você descobre que Ele sempre esteve aí e que a única coisa que separava você d’Ele era o que o separava de você mesmo.
            A partir desse instante, o falar consigo mesmo, na oração, é uma abertura para descobertas sem fim e para uma intensificação do seu eu, da sua consciência de si, da sua presença diante de si mesmo, dos outros eus, do mundo e do próprio Deus.
            É o seguinte. Quando você fala com alguém, não joga simplesmente palavras para todo lado, mas as dirige a uma pessoa determinada, da qual você sabe alguma coisa. Falar com Deus não é diferente disso. Você tem de se dirigir a Ele como a uma pessoa determinada, não um anônimo desconhecido que não está em parte alguma.
            Você tem de se apegar a algo que você sabe de Deus com certeza, e falar a esse algo como se fosse Deus inteiro. É claro que não é, mas Deus não liga para isso. Quando falamos com seres humanos, é a mesma coisa. Você fala com esta pessoa, neste lugar, num momento determinado do tempo, como se o que estivesse diante de você fosse a pessoa inteira, do nascimento à morte, sabendo que não é, mas que de algum modo o que você diz a esse recorte de pessoa chega à pessoa inteira.
            Só há um problema: Você quer mesmo saber tanta coisa a seu respeito? Se você não tem a firme disposição de aceitar o seu retrato tal como Deus o mostra, com todas as surpresas agradáveis e desagradáveis que Ele tem para lhe mostrar, Ele não lhe mostrará nada.
            Às vezes queremos contar a Deus os nossos pecados, mas como podemos fazê-lo, se é o próprio Espírito Santo quem nos ensina quais são esses pecados? Às vezes pensamos que é um, e na verdade é outro. Uma boa coisa é pedir a Deus que lhe revele seus verdadeiros pecados, para que você os confesse. Nos dias seguintes você vai se lembrar de vários deles, que já tinham se perdido na memória ou que nunca estiveram lá.
            Mas é claro que o que estou dizendo não se refere só a pecados. Você pode pedir que Deus lhe mostre quem você é. Só que, se Ele mostrar tudo de uma vez, não caberá no seu círculo de atenção. Portanto, peça que Ele lhe revele, de tudo quanto você é, só aquilo que Ele acha verdadeiramente importante que você saiba na presente etapa da sua vida.
            Todos nós falamos de nós mesmos usando a palavra “eu”. O eu é o centro agente e consciente que tenta dirigir os nossos atos e pensamentos no meio de uma gigantesca confusão que vem do nosso inconsciente, do meio social, de fragmentos de conversas entreouvidas, da TV, do diabo. Ora, toda essa confusão está em nós, ela é nós de algum modo, mas não é o nosso “eu”. Isso quer dizer que cada um de nós só é um “eu” de maneira parcial e imperfeita. Somos muito imperfeitamente personalizados. Há muitos pedaços em nós que nos são estranhos, que são anônimos. Pedaços de nós que são coisa, e não pessoa.
            Os bichos e coisas ao nosso redor não têm um eu. Não podem falar consigo mesmos, viver a vida interior de alguém que se conhece como centro agente, responsável, consciente, ao menos em parte, da sua história e co-autor consciente, espera-se, dos capítulos restantes.
            Descubra isto neste Natal e seja feliz.