Tradição

Quando cair.

Quando acabar.

Quando tudo for uma

vasta terra devastada;

À distância, há de se desejar

aquilo o que nunca se viu,

mas que se ouviu somente falar.

O movimento substancial

Fosse o teu olhar

que assiste à realidade

para além dos olhos teus.

 

Olhar que ora é
de duração,
ora não.

E te faz ver a metafísica
de um simples gesto

até.

Mas não!

São os teus olhos

voltados para um mundo

cheio de coisas lindas

e findas.

Lisboa, rainha do mar

Aquela senhora

Aquela senhora sentada,
simplesmente sentada

na calçada,

Causa em mim
perplexidade.

É que ela é apenas
uma senhora sentada
na calçada.

Vespertina Lembrança

Fim de tarde,

pôr-do-sol.

Ao longe,

a estrela vespertina,

de vespertina lembrança,

Para a retomada

de um dia inteiro,

de um ano inteiro,

de uma vida inteira,

e de tudo que foi inteiro

um dia.

E pelos sentidos,

todos,

põe-se junto com o sol,

um silencioso, longo e

distante olhar.

Seu coração

Seu coração canta

e renovado sente

todo o mistério de ser.

Seu coração canta a arte,

o belo e canta o gesto mais simples

como um gesto simples que restou.

Seu coração canta o céu
que se mostra inatingível.

Seu coração deseja-o
pelo simples motivo
de ser incompreensível.

Do silêncio aumentado

Do silêncio das flores,

do silêncio dos astros,
do silêncio das coisas,

todas.

Até mesmo
do silêncio aumentado,
do motor de uma geladeira,
na madrugada,

desligado.