sábado, 31 de dezembro de 2016

Meu ocaso



Lá quando
já ido o dia,
quando os raios
pálidos tocam
sobranceiramente
os morros:
Eis, meu irmão,

o pôr-do-sol.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Trago na lembrança

Aquele senhor,
no banco da praça,
que me fez lembrar
Chersterton:
ele não é
necessariamente
um poeta, mas é
irrefutavelmente
um poema.

Cantares (Antônio Machado)

Tudo passa e tudo fica
porém o nosso é passar,
passar fazendo caminhos
caminhos sobre o mar
Nunca persegui a glória
nem deixar na memória
dos homens minha canção
eu amo os mundos sutis
leves e gentis,
como bolhas de sabão
Gosto de ver-los pintar-se
de sol e grená, voar
abaixo o céu azul, tremer
subitamente e quebrar-se…
Nunca persegui a glória
Caminhante, são tuas pegadas
o caminho e nada mais;
caminhante, não há caminho,
se faz caminho ao andar
Ao andar se faz caminho
e ao voltar a vista atrás
se vê a senda que nunca
se há de voltar a pisar
Caminhante não há caminho
senão há marcas no mar…
Faz algum tempo neste lugar
onde hoje os bosques se vestem de espinhos
se ouviu a voz de um poeta gritar
“Caminhante não há caminho,
se faz caminho ao andar”…
Golpe a golpe, verso a verso…
Morreu o poeta longe do lar
cobre-lhe o pó de um país vizinho.
Ao afastar-se lhe viram chorar
“Caminhante não há caminho,
se faz caminho ao andar…”
Golpe a golpe, verso a verso…
Quando o pintassilgo não pode cantar.
Quando o poeta é um peregrino.
Quando de nada nos serve rezar.
“Caminhante não há caminho,
se faz caminho ao andar…”
Golpe a golpe, verso a verso.
(Tradução de Maria Teresa Almeida Pina)

quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

O vagamundo

Um vagamundo
grita pelas ruas,
tô, tô, tô enrolado.

E em razão do seu grito

aos outros vem o dito,
tô, tô, tô enrolado.

Moço!

Será essa a
nossa condição?

Sei não!


Tô, tô, tô enrolado.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Para ser amado há que ser amável


Poema

"No fim tu hás de ver que
as coisas mais leves são as únicas
que o vento não conseguiu levar:
um estribilho antigo
um carinho no momento preciso
o folhear de um livro de poemas
o cheiro que tinha um dia o próprio vento.." M. Q.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Não esperes...

Não esperes tu que se preocupem...

Não esperes tu que se envolvam...

Porque

preocupados e
envolvidos estamos.

Não esqueças tu,

moço,
que a tristeza tua,
é só tua.

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Passagens

1) Se uma das condições é a fé, os sem-fé têm o mais saudável direito de rir. Mas não têm o direito de julgar." G. K. Chersterton.

2) A coragem é aquela virtude que consiste em não temer riscos, quando se deve fazer o que se deve fazer.” Mário Ferreira dos Santos.

3) “E disse ao homem: Tu não és o princípio de todas as coisas, porque um dia começastes a ser. Nem teu pai, nem teus antepassados, pois todos começaram a ser. Nem esta terra, nem astros, porque tudo isso começou a ser. Não pode dar aquele que não tem. Não darás o que não tens. Se tudo começa a ser, o que há não veio do nada, porque o nada nada tem para dar. Tudo quanto começa a ser deve ter sido dado por quem tem.” Mário F. dos Santos.

Deus meu! Permaneçam em mim os termos dessas passagens para que uma vez perdendo não seja covarde e sendo forte que nunca me torne prepotente.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

No quarto

Um quarto vazio.

No quarto:
uma cômoda, 
uma garrafa,
TV e cama.

Vazio?

Sim, vazio!


Conquanto tudo,
tudo desabitado está.

Inclusive
meu coração de
vidro pintado.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Poente



Fim de tarde,
e o pôr-do-sol,
então.

E a estrela vespertina,
de vespertina lembrança.

E a retomada
de um dia inteiro,
de um ano inteiro,
de uma vida inteira.

E pelos sentidos todos,
todos mesmos,
põe-se com o sol
esse meu insignificante,
silencioso
e longo olhar.