Estudando a obra de Santo Agostinho, O Livre-Arbítrio, deparei-me com uma passagem que me chamou realmente atenção: Se não acreditardes não entendereis. Foi compreendendo-a que pude sair do lugar em que me encontrava para outro que estava adormecido em mim.
Com efeito, afastado de minha condição teomórfica, para usar uma expressão utilizada por Eric Voegelin em sua monumental obra Hitler e os Alemães, eu não conseguia acreditar sem antes entender. Era necessário, pois, que eu entendesse para acreditar.
Mutatis mutandis, esse modo de ser parece típico do homem moderno, que tem na ciência o princípio e o fim de todas as coisas. Por isso que do ponto de vista da filosofia moderna, de acordo com Étienne Gilson, “a prova da existência de Deus é uma das ambições mais altas da metafísica; nenhuma tarefa é mais difícil, a tal ponto que alguns a estimam como impossível.” Por outro lado, porém, “para santo Agostinho e para aqueles que mais tarde se inspiraram em seu pensamento, provar a existência de Deus [...] parece uma tarefa tão fácil que basta empenhar-se nisso.”
Então o homem cindido e cheio de si procura no vasto campo de sua experiência encontrar respostas às perguntas que ele faz e se diz por sua vez autorizado em responder. Em outros termos, é uma busca que tem começo nele e acaba nele mesmo. Por isso ser assim, um exame que busque compreendê-lo a partir de sua condição divina se é visto como impossível.
Não querendo desmerecer ninguém, já que não é essa a minha intenção, mas veja a postura de um Auguste Comte, por exemplo. Veja o quanto fora atrevido na pretensão de fazer de sua ciência positiva a atalaia para os séculos vindouros. E de Marx, que era filho de advogado, sustentado pelo amigo Engels, um industrial, que segundo aquele autor este seria o pior tipo de burguês. Ora bem, esta canalhice é ou não fruto de uma falta de Deus. Tenha paciência.
De mais a mais, não falo aqui como se me colocasse conforme um ser onisciente, em absoluto. Falo tão somente para registrar o quanto estava equivocado na minha busca; além de me achar o tal, ainda colocava Deus como objeto de minhas questões mesquinhas. Pobre criatura.
E Santo Agostinho ajudou-me a retornar a Deus, e me ensinou que sem Ele nada posso, nada sou.
Lembro-me, para finalizar, do meu tempo de escola primária e secundária, cresci ouvindo dos meus “professores” que a Idade Média fora o período das trevas em matéria de conhecimento. Oh, horror! Levei algum tempo para descobrir que aquilo que chamam “século das luzes” se afina muito mais às trevas do que à luz.