Fui mestrando em ciência política na UFRJ. Pensei em ingressar num curso de pós-graduação para aprimorar meus conhecimentos. Não sabia, porém, que para conhecer política não precisava ir para UFRJ. E durante o mestrado o que sentia era exatamente o contrário ao que me motivou a buscá-lo. Mas, por fraqueza, continuei fazendo os créditos.
No mesmo período do mestrado descobri autores que nunca eram citados em sala de aula, e os descobri através da extinta Primeira Leitura. Essa descoberta, pois, mudou por completo o meu modo de pensar em matéria de ciência política. Quando entrei em contato com Eric Voegelin (este através de um amigo que estimo muito), Hayek, Frédéric Bastiat, por exemplo, eles despertaram em mim uma nova corrida ao saber. E sem dúvida que esse novo sentido chocou-se com o velho existente na instituição onde estudava. Porquanto os professores que nutrem profunda admiração por um pensamento esquerdista, vez que a universidade brasileira é de esquerda, não admitem discussões que tragam à baila pensadores tão notáveis como os retromencionados.
Desse modo, fiquei em uma encruzilhada: defendo minha dissertação, independente do meu orientador ser de esquerda e autoritário para tão só adquirir o título, ou diria não. Ora, sendo já um professor, deveria aceitar tão vil condição, quando não era isso que falava em minhas aulas? Sim, errei. Errei por ter feito uma escolha que julgava capacitar-me melhor em matéria de ciência política. E durante algum tempo tomar a decisão, fazer a escolha doía-me. Até porque sabia que o mestrado seria essencial à manutenção de minha vida. Acostumamo-nos com idéias ruins e depois nos tornamos presas delas. Mas fiz a escolha e paguei o preço por tê-la feito: fui demitido.
Isso posto.
O Ministério da Educação e Cultura avalia as intstituições de ensino pelo menos uma vez por ano. Cuide-se no entanto de julgar uma instituição não apenas pelos mestres e doutores que a compõem; mas, sobretudo, pelo que eles ensinam.
Com efeito, é a partir do que se ensina que uma instituição deve ser avaliada. E entre um título e um professor vale este pela qualidade de seu magistério. Assim, que o professor não persuada o aluno com agrados que não dizem respeito à verdadeira ratio pedagógica. E o aluno por sua vez deverá sim entender que sua missão não é diferente da do professor: zelar pela sabedoria. Aliás, este é o verdadeiro agente do ato de conhecer. Nesse sentido, veja o brilhante artigo do filósofo Olavo de Carvalho: "Educação ao contrário". Leiam aqui.
Evidentemente todo conteúdo ensinado estará comprometido com a Verdade. Desse modo, todo esforço deverá ser reconhecido por aqueles que estão empenhados à mesma causa: professor e aluno. Sugere-se, pois, a tradição. Mas, em que consiste essa tradição?
Numa sala de aula o que se deve estimular é a capacidade de reflexão. Portanto, os autores modernos, em princípio, devem ser rechaçados. Por outro lado, é aconselhável que os alunos sejam animados a estudar os clássicos, em primeiro lugar. Com efeito, será mais proveitosa a eles a empreitada de estudar Platão e Aristóteles, por exemplo, que a de Foucault e outros dessa estirpe.
Nessa ordem, os autores medievais não poderão ser omitidos. De fato, o professor terá de estudá-los e incentivar os seus alunos para que estes cresçam através da leitura dos Santos. Dito isso, Santo Agostinho, São Tomás, Hugo de São Vítor, por exemplo, serão excelentes guias para os estudos de Filosofia Cristã e, por conseguinte, de uma vida virtuosa com Deus.
Além disso, toda e qualquer instituição comprometida com o saber terá em seus professores a preocupação constante em formar amigos do saber, como deveriam ser eles mesmos: os professores. Sabendo-se que todo esforço do professor será recompensado a partir do momento em que os alunos compreenderem a importância de amar a Sabedoria.
Abro parêntese, como não há mais em nossas escolas o estudo do Latim, caberá ao professor estimular o aluno a estudar essa disciplina como autodidata. Para tanto, a Gramática Latina do professor Napoleão Mendes de Almeida é um bom começo. Outra disciplina que merece atenção dos alunos e dos professores é a Lógica, já que ela, segundo São Tomás, citado por Paulo Faitanin, é a arte diretiva do próprio ato da razão, por meio do qual o homem em seu próprio ato da razão ordena facilmente e procede sem erro. Desse modo, parece que o livro Métodos Lógicos e Dialéticos de Mário Ferreira dos Santos será de grande utilidade. Ou Analíticas I e II de Aristóteles. Os Tópicos, etc. Não se deixando vencer, porém, pelas dificuldades que acaso surjam; já que, como nos ensina Platão, o belo é difícil. Fecho parêntese.
Com bases nesses estudos e igualmente com o decorrer dos anos os alunos serão capazes de distinguir o verdadeiro do falso, escolhendo aquele, é claro. Sendo assim, tendo os professores títulos de mestrado, ou doutorado, isso não importará; visto que o importante, sem dúvida, é o que eles ensinam. Sinceramente, não vejo riqueza em gente que se orgulha por defender uma tese de doutorado para simplesmente gabar-se, qual uma criança se ufana de seu brinquedo.
Se for portanto o título o único critério de avaliação, o mais importante não será o amor ao saber, mas o escudo que o “ilustre” professor por trás se esconde. Uma forma vil de defesa.
De mais a mais, se porventura o aluno não estudou no tempo devido de sua formação, quer por lhe faltar quem o indicasse, quer mesmo por preguiça, os conteúdos essenciais, terá por obrigação e esforço pessoal de adquiri-los, sob pena de se tornar um mero papagaio de pirata, se posso dizer assim. Sem se esquecer, aliás, que não saber e não querer saber são de longe duas coisas bem diversas. Não saber é questão de incapacidade, mas detestar o saber é perversidade da vontade. Diz, por iluminação Divina, Hugo de São Vítor.
Ainda, se o MEC, através de seus avaliadores, considerar apenas o número de mestres e doutores de uma dada instituição de ensino, não estará a serviço da educação. Ao contrário. Não se quer dizer com isso que mestrado e doutorado não têm importância alguma, talvez tenham, eu descobri que não. Aliás, títulos suspeitos no Brasil, já que estes nem sempre representam o verdadeiro ofício do magistério, quer dizer, do professor. Mas são sim expressões da vaidade e da obstinação.
Penso ainda que aluno e professor devam afastar a nociva idéia tão já disseminada, desde a Renascença principalmente, de que o homem basta a si mesmo. E compreenderem que participam em perfeição com Aquele que lhes é maior: Deus. Como orienta, nesse sentido, o Apóstolo Paulo em sua Segunda Epístola aos Coríntios X, 17-18: Ora, quem se gloria, glorie-se no Senhor. Pois merece a aprovação não aquele que se recomenda a si mesmo, mas aquele que o Senhor recomenda.
Ademais, foi pela vaidade de alguns “heréticos inteligentes”, para usar uma expressão de Chersteton, que chegamos aonde chegamos com relação às coisas ruins de nosso tempo. Como nos chama atenção o Sumo Pontífice Pio X, em sua Carta Encíclica : Pascendi Dominici Gregis.
E encerrando, penso que os avaliadores do Ministério da Educação e Cultura não estão preocupados com o que é ensinado, porquanto o que de ruim se propaga em nossas escolas são eles signatários. Não se importarão se os nossos alunos cada dia mais e mais recebem não conhecimento, mas arremedo disto. Um lamentável quadro de desestímulo ao saber, e conseguintemente à Verdade.
Paradoxalmente, quanto mais andamos mais permanecemos no lugar. Pobre nação.